domingo, 22 de setembro de 2013

Solidariedade de classe

“NÃO ME DECEPCIONEM!”
"Carta de um preso político Bruno Torres, que esta encarcerado por lutar contra as injustiças sociais, traz relatos importantes da vida carcerária e da situação de muitos detentos, que cumprem pena mesmo sem julgamento, enquanto que mensaleiros e corruptos de toda laia, seguem impunemente. Segundo ele relata na carta a maioria são pobres e pretos mostrando que a prisão também é uma trincheira da luta de classes."(Introdução Protesto Popular SP)

 ... Estou escrevendo do COTEL na folha de um guardanapo devido a falta de qualquer papel propício para escrever. Por sinal, só achar essa caneta foi bastante difícil. Mas não tenham nenhum alarde quanto a isso, nem com a minha situação em geral.
A minha maior preocupação de fato não é o simples fato dos companheiros se mobilizarem pela minha libertação, isso é importante, é claro, mas o mais importante mesmo é que essa mobilização acarrete no desgaste de nosso governo de semiditadura implementado por Eduardo “Kampf”. Inclusive vos digo que se for para a queda desse fascista e pelo bem do avanço do processo revolucionário, tudo bem me prender, pelo tempo que for preciso.

A minha cabeça mais do que nunca permanece erguida, tal como meu punho esquerdo. Prenderam-me, mas não minhas ideias nem a luta pela libertação do povo. “As ideias são a prova de balas” e a prova de grades também. A minha moral revolucionária, ao contrário do que pensa a PM e Eduardo Campos, só se revigora. O governador colocou seus cães raivosos a fim de mim intimidar e intimidar meus companheiros, mas não é por tão pouco que devemos nos abater. “Ontem”, revolucionários morreram torturados para que “hoje” abaixemos nossas bandeiras por conta de uma “prisãozinha”? Me parece que o governador aprendeu muito pouco com Wilson Damázio (atual secretário de defesa social e ex-torturador do Regime Militar). Ao contrário desse aspirante fascista, nós estamos sempre a aprender com Soldedad, Padre Henrique, Dom Hélder e tantos outros.

Sim, camaradas, eu caí! Mas num mundo de injustiças, há que se esbravejar aos quatro cantos que todos que lutam por um mundo mais justo estão sujeitos a “cair”. Há que se reafirmar que “a prisão é o segundo lar de todo revolucionário”.

Caso isso acalme os companheiros: Não estou recebendo um tratamento de todo modo ruim. O descaso do governo do estado para com o sistema penitenciário é grande, o que gera uma “infinitude” de problemas ao presídio, mas talvez por sorte, com a boa vontade e empenho do Diretor Penitenciário, juntamente com a camaradagem e a fraternidade dos presidiários, amenizam estas questões. A maioria de origem humilde, e muitos claramente membros da classe trabalhadora. A quantidade de negros, pobres e trabalhadores é absurda, tal como o alto número de inocentes (confirmados pelos próprios agentes do COTEL), o que denota que o problema destes presos tem uma raiz política-econômica. Pude ver que para questões de práxis, eu não sou o único preso político aqui. Testemunhei, um fato conhecível a todo revolucionário: No fundo, no fundo “todo preso é um preso político”.

O comandante de organização, combatente vermelho, mandou dizer que levem esse meu recado a todo camarada, e que seja levada a proposta para ratificarem: NÃO PERMITO que caiam em qualquer sentimentalismo pequeno-burguês de se limitarem a lutar porque um companheiro (e amigo) caiu, lutem não só por mim, mas em prol de toda população carcerária injustiçada, e do povo explorado, nossa luta não consiste na libertação de um, mas sim pela libertação do povo. Não me decepcionem.

Há homens aqui que necessitam e demandam que lutemos por eles. O Diretor João Fernandes (único diretor que vi que realmente se engaja na recuperação dos presos) é um deles. Os companheiros de cadeia (que não deixam faltar os cigarros) também são. Há muitos homens que mal sabem ler. Muitos que estão a dois anos e nem sequer foram condenados. Muitos que dificilmente sairão da vida da criminalidade, e outros que entraram inocentes mas vão sair com a mentalidade alterada. Aliás, a quantidade de inocentes é absurda (o que é dito pelos próprios agentes). Reside aqui a nata do povo pobre, e se aplica um processo que torna um simples cidadão como um elemento além do lupem.

Os detentos afirmam que o número de injustiças tem se acentuado nos últimos anos devido a programas como o “PACTO PELA VIDA” que estipula metas de prisão, além de estímulos financeiros aos policiais que conseguirem prender mais, programa esse implementado pelo Fürher Eduardo Campos. O pobre e/ou o preto é o mais atingido. Na primeira cela por qual passei, havia somente e e mais uns quatro “brancos”, para próximo de quarenta negros.

Meu lado emocional e minha moral se mantém firmes, minha única preocupação a nível emocional são da que meus pais com certeza estão a sofrer mais do que eu. Mas a libertação do povo é muito mais importante que questões pessoais minhas. Apesar da boa vontade do Diretor João Fernandes, ele sozinho não conseguirá a qualidade e garantir atividades de recuperação eficientes aos encarcerados do COTEL, nem de Pernambuco ou do Brasil. Vocês sabem tanto quanto eu, que a justiça para os homens daqui de dentro, qyabti a justiça para os homens “livres” daí só se conseguirá com a vitória da luta revolucionária. Mediante a isso mantenham seus ideários firmes e inquebrantáveis. Os encarcerados do COTEL que tem plena ciência dos males deste governo e contam conosco para enfraquecer esse podre sistema, derrubar esse ditador e acabar com programas infernais como o “PACTO PELA MORTE”, digo, “PELA VIDA”. Prometi aos presidiários, sobretudo aos injustiçados, que não esqueceria eles. Finalizo aqui o resumo do que apurei. Propaguem essa mensagem.

- Dedicada a Resistência Pernambucana, MEPR e demais forças políticas que estão se solidarizando.

- Dedicada a UNIDADE VERMELHA, e aos meus camaradas Jonas, Marcos, Pedro e todos os que vieram a porta do COTEL, minha saudação e continência.





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