“NÃO ME DECEPCIONEM!”
"Carta de um preso político Bruno Torres, que esta encarcerado por lutar contra as injustiças sociais, traz relatos importantes da vida carcerária e da situação de muitos detentos, que cumprem pena mesmo sem julgamento, enquanto que mensaleiros e corruptos de toda laia, seguem impunemente. Segundo ele relata na carta a maioria são pobres e pretos mostrando que a prisão também é uma trincheira da luta de classes."(Introdução Protesto Popular SP)
A minha maior preocupação
de fato não é o simples fato dos companheiros se mobilizarem pela minha
libertação, isso é importante, é claro, mas o mais importante mesmo é que essa
mobilização acarrete no desgaste de nosso governo de semiditadura implementado
por Eduardo “Kampf”. Inclusive vos digo que se for para a queda desse fascista
e pelo bem do avanço do processo revolucionário, tudo bem me prender, pelo
tempo que for preciso.
A minha cabeça
mais do que nunca permanece erguida, tal como meu punho esquerdo. Prenderam-me,
mas não minhas ideias nem a luta pela libertação do povo. “As ideias são a
prova de balas” e a prova de grades também. A minha moral revolucionária, ao
contrário do que pensa a PM e Eduardo Campos, só se revigora. O governador
colocou seus cães raivosos a fim de mim intimidar e intimidar meus
companheiros, mas não é por tão pouco que devemos nos abater. “Ontem”,
revolucionários morreram torturados para que “hoje” abaixemos nossas bandeiras
por conta de uma “prisãozinha”? Me parece que o governador aprendeu muito pouco
com Wilson Damázio (atual secretário de defesa social e ex-torturador do Regime
Militar). Ao contrário desse aspirante fascista, nós estamos sempre a aprender
com Soldedad, Padre Henrique, Dom Hélder e tantos outros.
Sim,
camaradas, eu caí! Mas num mundo de injustiças, há que se esbravejar aos quatro
cantos que todos que lutam por um mundo mais justo estão sujeitos a “cair”. Há
que se reafirmar que “a prisão é o segundo lar de todo revolucionário”.
Caso isso
acalme os companheiros: Não estou recebendo um tratamento de todo modo ruim. O
descaso do governo do estado para com o sistema penitenciário é grande, o que
gera uma “infinitude” de problemas ao presídio, mas talvez por sorte, com a boa
vontade e empenho do Diretor Penitenciário, juntamente com a camaradagem e a
fraternidade dos presidiários, amenizam estas questões. A maioria de origem
humilde, e muitos claramente membros da classe trabalhadora. A quantidade de
negros, pobres e trabalhadores é absurda, tal como o alto número de inocentes
(confirmados pelos próprios agentes do COTEL), o que denota que o problema
destes presos tem uma raiz política-econômica. Pude ver que para questões de
práxis, eu não sou o único preso político aqui. Testemunhei, um fato conhecível
a todo revolucionário: No fundo, no fundo “todo preso é um preso político”.
O comandante
de organização, combatente vermelho, mandou dizer que levem esse meu recado a
todo camarada, e que seja levada a proposta para ratificarem: NÃO PERMITO que
caiam em qualquer sentimentalismo pequeno-burguês de se limitarem a lutar
porque um companheiro (e amigo) caiu, lutem não só por mim, mas em prol de toda
população carcerária injustiçada, e do povo explorado, nossa luta não consiste
na libertação de um, mas sim pela libertação do povo. Não me decepcionem.
Há homens aqui
que necessitam e demandam que lutemos por eles. O Diretor João Fernandes (único
diretor que vi que realmente se engaja na recuperação dos presos) é um deles.
Os companheiros de cadeia (que não deixam faltar os cigarros) também são. Há
muitos homens que mal sabem ler. Muitos que estão a dois anos e nem sequer
foram condenados. Muitos que dificilmente sairão da vida da criminalidade, e
outros que entraram inocentes mas vão sair com a mentalidade alterada. Aliás, a
quantidade de inocentes é absurda (o que é dito pelos próprios agentes). Reside
aqui a nata do povo pobre, e se aplica um processo que torna um simples cidadão
como um elemento além do lupem.
Os detentos
afirmam que o número de injustiças tem se acentuado nos últimos anos devido a
programas como o “PACTO PELA VIDA” que estipula metas de prisão, além de
estímulos financeiros aos policiais que conseguirem prender mais, programa esse
implementado pelo Fürher Eduardo Campos. O pobre e/ou o preto é o mais
atingido. Na primeira cela por qual passei, havia somente e e mais uns quatro
“brancos”, para próximo de quarenta negros.
Meu lado
emocional e minha moral se mantém firmes, minha única preocupação a nível
emocional são da que meus pais com certeza estão a sofrer mais do que eu. Mas a
libertação do povo é muito mais importante que questões pessoais minhas. Apesar
da boa vontade do Diretor João Fernandes, ele sozinho não conseguirá a
qualidade e garantir atividades de recuperação eficientes aos encarcerados do
COTEL, nem de Pernambuco ou do Brasil. Vocês sabem tanto quanto eu, que a
justiça para os homens daqui de dentro, qyabti a justiça para os homens
“livres” daí só se conseguirá com a vitória da luta revolucionária. Mediante a
isso mantenham seus ideários firmes e inquebrantáveis. Os encarcerados do COTEL
que tem plena ciência dos males deste governo e contam conosco para enfraquecer
esse podre sistema, derrubar esse ditador e acabar com programas infernais como
o “PACTO PELA MORTE”, digo, “PELA VIDA”. Prometi aos presidiários, sobretudo
aos injustiçados, que não esqueceria eles. Finalizo aqui o resumo do que
apurei. Propaguem essa mensagem.
- Dedicada a
Resistência Pernambucana, MEPR e demais forças políticas que estão se
solidarizando.
- Dedicada a
UNIDADE VERMELHA, e aos meus camaradas Jonas, Marcos, Pedro e todos os que
vieram a porta do COTEL, minha saudação e continência.
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