Divulgamos nota da Liga dos Camponeses Pobres LCP
Ouvidor Nacional dos
latifundiários Gercino e major Ênedy comandam campanha de criminalização
da luta pela terra
Jaru, 25 de abril de 2013
Em abril, algumas páginas de notícias
na internet veicularam fotos de armas de fogo com a inscrição “LCP”. As
matérias eram confusas: o título dizia “GOE apreende armas de fogo emTheobroma”, já o texto falava que a Polícia Civil de Porto Velho prendeu um
suspeito de assaltar a agência dos Correios de Alto Paraíso. Ainda constava que
o autor da notícia era o major Plínio Cavalcanti, comandante da PM de Jaru.
Não, não se trata aqui de uma incompetência do major Plínio no ramo
jornalístico. A matéria é confusa de propósito, é para enganar a opinião
pública de que a LCP é uma organização criminosa e que as tomadas de terra
estão cheias de bandidos. Assim fica justificado toda violência e
irregularidades que o velho Estado sempre comete contra quem luta pelo sagrado
direito à terra.
Estas matérias da internet são mais uma
farsa da polícia que precisa ser esclarecida.
A LCP é uma organização camponesa que
luta pelo sagrado direito à terra para quem nela vive e trabalha. Devido a
isto, o latifúndio sempre nos odiou e enviou seus capangas, particulares e da
polícia, pra nos perseguir duramente. Certamente, esta marcação nas armas foi
feita pelos próprios policiais, mais uma armação para nos incriminar.
Desde fevereiro, o 7º Batalhão da
Polícia Militar (de Ariquemes), comandado pelo major Ênedy, está realizando uma
grande operação em Theobroma e região com o objetivo declarado de combater
bandidos e cumprir mandados de reintegração de posse. Este objetivo em si já é
um disparate! Como se o aumento da criminalidade fosse culpa das novas tomadas
de terra.
Desde julho de 2012, 7 tomadas de terra
ocorreram na região de Jaru, reunindo mais de 500 famílias, a maioria de
camponeses pobres. O delegado Salomão de Matos disse que descobriu durante
investigações que a maioria das famílias acampadas não era pobre. Mas que
investigação? Nenhum camponês nos relatou que alguém apareceu no acampamento
para perguntar de onde vieram e por que foram acampar. Ninguém foi conhecer as
famílias que sobreviviam com a alimentação coletiva do acampamento e que depois
do despejo tiveram que pedir a sitiantes vizinhos um lugar pra ficar, pois não
tinham pra onde ir. Ninguém visitou as dezenas de crianças que ficaram sem
estudar.
Não podemos esquecer que o major Plínio
tem um professor bastante qualificado na criminalização da luta pela terra: o
major Ênedy, velho perseguidor da LCP. Sua última mentira foi dita numa reunião
com camponeses em Monte Negro, em abril: “Todos querem paz e viver bem,
a PM está aqui para dar segurança desde o doutor ao mais humilde e pobre
cidadão.” Piada!
O mesmo disse o Ouvidor de
latifundiários Gercino da Silva no último dia 25, em Porto Velho: “Doa
a quem doer, quem cometer ilegalidade vai sofrer as consequências.” Mais
uma ameaça aos camponeses, pois ele deu esta declaração durante reunião da
Comissão de Combate à Violência no Campo, onde não deu uma só palavra sobre os
crimes da polícia: intimidação, espancamento, tortura, ameaças de morte, queima
de barracos e atuação junto de pistoleiros! Nenhuma palavra sobre a justiça que
esquece das leis de defesa da vida e de uso social da terra e expede ordens de
despejo e prisão de líderes camponeses na maior rapidez! Nenhuma palavra sobre
o abandono da reforma agrária por parte do Incra! Mas, para Gercino, isto não é
ilegalidade...
Vejam alguns dos fatos criminosos desta
campanha de criminalização da luta pela terra, denunciados por camponeses de
várias áreas da região de Jaru:
1. Em novembro de 2012, três
pistoleiros armados foram presos pela PM com 1 espingarda de dois canos calibre
12, 1 carabina calibre 38 e 2 revólveres calibre 38, mas foram liberados pouco
depois. Assim como o ex prefeito de Porto Velho que roubou milhões e não ficou
nem 1 dia na cadeia. Por outro lado, camponeses estão presos sob a acusação de
liderarem tomadas de terra. É assim que os 3 poderes do velho Estado governam o
Brasil: atentar contra a vida de pessoas não é crime, mas quem luta por um
pedaço de terra para viver com dignidade e contribuir para o desenvolvimento da
região e nação é humilhado, perseguido, ameaçado de morte, preso, torturado e
assassinado.
2. No dia 08 de abril, a polícia
prendeu Maicon Gonçalo José Sabino, acusado de um assassinato. Soubemos que
depois que ele já estava preso, foi tão espancado que ficou dias sem andar
direito e até hoje está surdo de um dos ouvidos.
3. Durante semanas, policiais da PM e
do GOE, fortemente armados realizaram blitz nas estradas, parando os moradores,
muitas vezes de forma muito agressiva e mesmo na frente de crianças. Os
policiais perguntavam se a pessoa era do movimento, como se a LCP e outras
organizações sociais fossem entidades criminosas. Um camponês relatou que
chegou a ser espancado por policiais numa destas blitz. Estas blitz criminosas
diminuíram após o ato público que realizamos em Jaru, no dia 9 de abril onde
denunciamos a campanha de criminalização.
4. No dia 25 de fevereiro, o
acampamento Bom Futuro foi despejado. Policiais ameaçaram uma senhora de 82
anos só porque seu lote faz divisa com o acampamento e sem pedir permissão
passaram por seu lote. Também arrombaram o cadeado da porteira de outro
proprietário vizinho. Camponeses relataram que viram 4 pistoleiros fortemente
armados, que ajudaram a polícia a derrubar os barracos com uma pá carregadeira
e atear fogo. Os camponeses denunciaram que eles estavam armados, mas a polícia
não fez nada. Depois os camponeses ficaram acampados num lote vizinho, com
autorização do proprietário. No dia 6 de abril de 2013, 4 viaturas do GOE foram
até o local, não encontraram ninguém e colocaram fogo nos barracos, com todos
pertences das famílias dentro.
5. Os camponeses do acampamento Zé
Porfírio foram despejados e levados pra delegacia de Jaru, onde foram tratados
como bandidos e coagidos durante os depoimentos. O delegado de Jaru ameaçou de
morte um dos líderes do acampamento. Após o despejo, policiais do GOE
retornaram para a área e ficaram esperando a chegada do latifundiário Oswaldo
Nicoletti para pessoalmente ajudar a derrubar e queimar os barracos dos
camponeses. Um trabalhador ouviu um policial dizer: “Bem que podia
aparecer uns 3 sem terra para a gente cortar na bala.” Camponeses
também denunciaram que em abril, quando policiais foram cumprir vários mandados
de prisão ameaçaram: “Vamos pegar eles vivos ou mortos.”
6. Um senhor de idade e dois menores do
acampamento Fortaleza foram presos pela polícia e mesmo rendidos sofreram um
interrogatório com vários suplícios para delatarem os líderes. Os policiais
espancaram os camponeses e ameaçaram com um punhal, colocaram eles na viatura,
jogaram gás de pimenta e fecharam todas portas e janelas. Um dos camponeses
passou mal. Os policiais levaram-nos para o hospital, não sem antes
ameaçá-los caso contassem ao médico as agressões. Mesmo assim, um dos
camponeses denunciou ao médico, que falou aos policiais: "Vocês fizeram
coisa errada". Mas o laudo médico ficou com os policiais.
7. Camponeses relataram que pistoleiros
armados abordavam quem passasse na linha C-45 e eles suspeitassem ser acampado.
Exigiam documento e ameaçavam: "Os acampados serão tocados na
bala". De noite, os pistoleiros iluminavam o acampamento e atiravam
pra cima, para aterrorizar as famílias. Alguns cartuchos foram recolhidos pelos
camponeses. Camponeses reconheceram alguns dos pistoleiros e suspeitam que eles
são coordenados pelo PM André e por Chicão, genro e filho da Sra. Rosa,
respectivamente.
8. O Procurador do Ministério Público
de Jaru, Sr. Adilson, tem atacado as ocupações de terra alegando a preservação
do meio ambiente, mas não diz uma palavra sobre os desmatamentos cometidos
pelos latifundiários, inclusive os que se dizem proprietários das terras
ocupadas. Em público, o procurador Adilson disse que uma pessoa conhecida como
Jacamim era líder camponês e no dia seguinte, elementos atiraram para o alto na
frente da residência do Jacamim. Não podemos esquecer que Adilson foi policial
militar em Corumbiara e participou do hediondo massacre de Santa Elina!
9. Ao final do ato em homenagem aocompanheiro Renato, no dia 9 de abril, em Jaru, uma professora que saía do
local do ato foi ameaçada por um policial militar em uma viatura. Ele parou ao
lado do carro da professora e com o dedo em riste disse: “Aguardem!”
10. Camponeses de toda Rondônia estão
reclamando de abordagens agressivas da polícia, multando e apreendendo motos na
menor irregularidade. Afinal, repressão policial e arrecadação de impostos é o
resumo das funções do velho Estado para o povo.
Terrorismo de Estado
Não é por acaso que Rondônia
ultrapassou o Pará em número de mortes no campo, o que não ocorria há 25 anos.
Concordamos com nossos companheiros da CPT que qualificaram as violências
contra camponeses de “terrorismo de Estado”.
Devemos unir todos camponeses,
operários e demais trabalhadores da cidade, estudantes, professores e outros intelectuais
honestos, pequenos e médios proprietários, pequenos e médios comerciantes,
democratas e pessoas de bem, para combater mais esta campanha odiosa contra a
luta pela terra e para defender a Revolução Agrária.
Lutar pela terra não é crime!
Conquistar a terra, destruir o
latifúndio!
Terra pra quem nela vive e trabalha!
Viva a Revolução Agrária!