segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Trabalhadores homenageados


Mais uma vez, o Dolores Boca Aberta
Surpreende seus admiradores


Neste sábado, 15 de Setembro de 2012, foi inaugurado uma verdadeira obra prima em homenagem aos operários. Essa homenagem teve como parâmetro a audácia e a criatividade, de um grupo de teatro da Zona Leste de São Paulo, que vem buscando popularizar a arte e fazer com que o povo sinta em cada ato ou ação, um pouco da emoção e representado por cada ato. Esse grupo é formado por atores que se enxergam como artistas trabalhadores. Nascidos e criados na periferia de São Paulo, em sua criminalizada Zona Leste. Sofrendo com todas suas intempéries e preconceitos.

Desde sua criação, o Coletivo Dolores Boca Aberta, vem realizando atividades culturais em diversos seguimentos, sendo as artes cênicas, uma marca bastante admirada por onde passam, há também personagens bastante pitorescos, como é o caso do Candidato Armando Boas Praças, que sempre aparece em épocas de eleição, prometendo melhorar os problemas do povo e inaugurando praças, colocando o seu busto – uma forma de satirizar os políticos, que só prometem e fazem demagogia, além de ter o número de campanha 171, é candidato pelo POB (Partido Oportunista Brasileiro), também uma alfinetada nesses partidos eleitoreiros.

Segundo um dos coordenadores do Coletivo Dolores Boca Aberta – Luciano Carvalho, para realizar tal feito, o grupo teve que se adaptar e discutir, como fazer esse trabalho:

“A ideia ela não surge repentinamente como uma boa ideia. É resultado de um processo, num acumulo em pesquisa, luta política, luta estética desse coletivo, então o lance de fazer ocupações públicas, agente já tinha uma experiência junto ao movimento dos sem-terra, junto ao movimento arte de grupo da cidade de São Paulo, que agente milita também.”

“A ideia de construir monumentos, agente fez um ensaio sobre isso, uma pequena brincadeira, ou uma primeira brincadeira com pequenos bustos de bronze, que agente chegou espalhar uns três pela cidade, que são bustos do político corrupto que agente criamos, o Armando Boas Praça – o oportunista. Ou seja, para saltar dessa ideia do pequeno busto a um monumento e saltando também da qualidade de um busto satírico a um monumento provocador, a proximidade era evidente. Como fazer sendo nós trabalhadores de arte – do teatro, trabalhadores de cultura e trabalhadores de outra funções também, agente teve meio que fazer, duas três funções pra sobreviver. Como realizar uma obra desse porte, sem ser donos dos meios de produção e sem alienar trabalho, sem fazer as coisa que agente luta contra?”
Estampa em camisa, demonstra o repúdio
do grupo, nessa farsa eleitoral
“A ideia foi então, de lançar mão de recursos, que nós já conhecíamos que é o da ocupação. Então organizamos uma ocupação com lona preta, com banheiro, com cozinha, com dormitório, espaços coletivos, revezamento na vigilância, revezamento no trabalho, no canteiro de obras, ou seja: Organizamos um canteiro de obras, artístico, político e onde socializamos funções, trabalho, fazemos a rotatividades dessas funções e passamos a morar aqui, dezesseis dias morando na praça, criamos em paralelo, a esse trabalho, criamos outro trabalho, que é o trabalho de divulgação e o trabalho de apresentação de um festival de teatro de música, de poesia em praça pública. Então realizamos cerca de trinta apresentações nesse período, nas tardes e noites. Nas manhãs, para fazer o aquecimento, melhorar o corpo, para ir pro trabalho de concreto de soldagem e tal, nós fazíamos Lian Gong (exercícios de alongamento de origem chinesa) - agente mesclou uma série de possibilidades interessantes e concretizamos  na praça, fazíamos essa ginastica e depois íamos para o trabalho, então concretamos aí de cinco toneladas de concreto armado, aquele bloco que você viu que sustenta o elefante de aço de duas toneladas, duas toneladas e meia, por aí e a obra esta pronta. Agora estamos pronto, com o grupo Nhocuné Soul que é um grupo da Vila Nhocuné – uma banda excelente da quebrada e com a Escola de samba do Sem-terra, que é a Unidos da Lona Preta, que veio nos prestigiar.”

Esse monumento foi inaugurado entre as estações Artur Alvim e Corinthians-Itaquera, em um local que esta sendo disputado pelo poder público, para alargar a Radial Leste. Por tanto, ele também é uma obra de resistência, pois esta no caminho dessas pretensas obras. Também há a questão dos moradores de prédios, que também estão na mira do projeto. Segundo o coordenador, a prefeitura tentou impedir que se realizasse a obra, tentaram criar impeditivos, mas todos foram contornados pelo grupo.

A relação entre a população e eles, teve uma situação pitoresca, pois no início, alguns os viam com preconceito, pelo fato deles estarem acampados na praça debaixo de lona. Mas com o passar do tempo, as atividades foi ganhando o apoio popular, que foram aumentando a cada dia, a ponto da população fazer doações de alimentos, frutas e etc.
Também, houve alguns que torceram o nariz, ao ver a foice e o martelo no caminho do “Itaquerão”:

A hora da inauguração
O Simbolo, que ficará exposto entre as estações Artur Alvim e Corinthians-Itaquera, chama o povo a reconhecer a sua força e se levantar contra toda essa ordem de coisa, simbolizado pelo elefante, para esmagar os ratos
Operário Almino José de Melo Filho serralheiro
que soldou as peças da obra de arte
Tudo corria bem, o povo ia chegando aos, pouco e a homenagem estava prestes para acontecer, o grupo Nhocuné Soul, afinava os instrumentos e os organizadores, faziam alguns ajustes.

A Escola de Samba – Grupo da Lona Preta estava fazendo a anunciação do evento, nas ruas do entorno e o oportunista Armando Boas Praça, fazendo a sua campanha pelo POB (Partido Oportunista Brasileiro), seus cabos-eleitorais, distribuindo santinhos, pelas ruas. Eis que de repente chega uma notícia: Não poderá ser utilizado o palanque, pois havia ocorrido um problema e poderia comprometer o evento. Mas, acostumados ao improviso, o Dolores Boca Aberta, rapidamente mostrou sua organização e disciplina, distribuíram as tarefas e montaram o Show no chão, junto ao público, ideia essa que foi aplaudida pelos presentes.
A Turma da Lona Preta chegou com os batuques e em seguida o público foi se aglomerando. O grupo Nhocuné Soul, dando os últimos retoques eis que às 18:30 horas, inicia a homenagem, com o Nhocuné Soul, mostrando suas qualidades e ritmo – que não foram abaladas devido ao problema com o som.

A curiosidade aumenta e o público também – cerca de 300 a 400 pessoas fixas e centenas de curiosos que passavam e iam saber de que se tratava. Quando surge de forma oportunista mais uma vez, o candidato Armando Boas Praça, com uma trupe de teatro, fazendo uma encenação de como um político é cara-de-pau e enganador – recebido sob vaias pelo público. Após escorraçar esse picareta, o público se volta para o monumento, que teve sua inauguração feita pelo operário da obra, Almino José de Melo Filho – Serralheiro, que acompanha o grupo desde o início, ele relatou que de todos os trabalhos que ele já fez, esse havia sido o que mais emocionou, pois tinha um significado especial e ficaria por toda vida. Uma companheira, que não fazia parte do grupo, mas acompanha-o há 4 anos, estava ajudando na organização e emocionada, relata, que ali estava, mais um presente do grupo a cidade de São Paulo e que cabia a todos ajudar a preserva-lo, relatando sobre a luta contra a criminalização dos movimentos e o preconceito, além das dificuldades que é realizar um feito desse tipo.

Tiago Mini, que também é um dos organizadores do Coletivo Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes, para diante do monumento e demonstra toda sua emoção a ver o esforço do grupo materializado e principalmente o sorriso de felicidade do público presente, relata: “A minha emoção é de ter realizado uma obra coletiva feita por trabalhadores e para os trabalhadores de cunho político e que representa um marco para a cidade.”
Um casal de terceira idade, que passava, atravessou a avenida e veio ver de que se tratava, embora meio que tímidos, puderam relatar a importância de ter uma obra de arte na periferia: “É uma honra de grandeza e cultura, eu sou muito fã de obras de arte”.

Luciano Costa, também membro da coordenação, fica estático de fronte ao monumento, como que sentindo todo o êxtase da realização, com certeza, deveria estar passando pela sua cabeça, todos os percalços e dificuldades encontradas, para materializar a homenagem, perguntado, ele olha pra mim e diz: “É uma emoção grande, realizar uma obra desse porte, principalmente por tratar de uma obra de resistência, que simboliza os trabalhadores, representados pelo elefante e seus inimigos de classe que é o capital, a burguesia e o clero – representados pelos três ratos, sob os pés do elefante, que segundo a fábula, têm medo de ratos, mas quando souber da sua força, pode esmagar os ratos com as suas patas, assim é o trabalhador e nós buscamos expressar isso nessa obra.

4 comentários:

  1. Camaradas, só um detalhe, no Dolores não há coordenação, é um grupo auto gerido, e não tem esta função estabelecida.
    Parabéns pelo texto e vídeo.
    Xandi - Coletivo Dolores

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    1. Valeu Xandi, talvez eu tenha entendido errado, mas eu chamei de coordenação, por falar sobre os organizadores, subdivididos em tarefas e cada responsável, como coordenador de cada frente, mas se preferir, posso corrigir, gostaria de saber como achas melhor?

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  2. Sei que ñ tem nada a ver com o texto acima (muito bom por sinal) mas quero esclarecer uma duvida com um camarada revoluciońario, Me responda á uma pergunta: se vc fosse um jovem marxista de 15 anos e visse um sujo candidato a prefeitura fazendo as sinicas campanhas de "corpo a corpo", iludindo o povo, qual atitude tomaria?. Seria passivo, ignorando, pois para tomar alguma atitude revolucionária naquele momento deveria ter organização, teria uma ação combativa, de destaque, agredindo o vagabundo (candidato) fisicamente ou verbalmente, ou tentaria (mesmo que sem sucesso) fazer uma intervenção, com um discurso denunciando a farsa eleitoral, consientizando o povo, para repudiar a candidato e as eleições?

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  3. Caro Anônimo,
    Sei que em momentos como esse, passam várias formas de atingir o picareta, mas há que entender que para se tomar uma atitude consequente, deve-se ter em conta o desejo de plantar e de colher. Se estiver em um local, onde ninguém o conhece, ou de pessoas que estão seguindo o picareta, passaria como um revoltado apenas. Porém se na hora que o picareta estivesse passando, houvesse um clamor popular pelo repudio, você teria um grande papel.
    Mas isso, há que ser estudado e avaliado, pois cada fato é um fato diferente, somos pelo boicote aberto a qualquer candidato desse podre jogo político, por entender que ele está ultrapassado e buscamos criar formas de manifestar as nossas indignações, mas de forma organizada,
    Agora imagine, você: Se cada candidato que passar fazendo corpo a corpo, nós for fazer uma intervenção contundente, precisaríamos de milhões de ativistas e se tivéssemos milhões de ativistas para isso, já teríamos feito uma transformação verdadeira, não concorda?
    por tanto, agradecemos a sua participação e esperamos, que participe das atividades em repúdio as eleições. Leia o Jornal AND: http://anovademocracia.com.br/ e os blogs contra a farsa eleitoral - http://eleicaonao.blogspot.com.br/

    Saudações classistas.

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